quarta-feira, 23 de outubro de 2013



...



dai-me um dia branco, um mar de beladona

um movimento

inteiro, unido, adormecido

como um só momento.





eu quero caminhar como quem dorme

entre países sem nome que flutuam.



imagens tão mudas

que ao olhá-las me pareça

que fechei os olhos.



um dia em que se possa não saber.

...

sophia de mello breyner andresen

sábado, 29 de junho de 2013






...Deixa-me andar assim no teu caminho 

Por toda a vida, Amor, devagarinho, 
Até a morte me levar consigo...



Florbela Espanca

quinta-feira, 23 de maio de 2013

S/t





Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. 


Sentir tudo de todas as maneiras. 

Sentir tudo excessivamente, 
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas 
E toda a realidade é um excesso, uma violência, 
Uma alucinação extraordinariamente nítida 
(...)




Álvaro de Campos, in "poemas"

domingo, 31 de março de 2013

The Bride



a última vez que nos víamos: cada gesto, cada momento. ela voltou-se de novo para mim e olhámo-nos com a força de, por um instante, sermos capazes de acreditar que nenhum deus seria capaz de separar-nos. logo a seguir, numa certeza que se espetou contra nós, muito maior do que um instante, soubemos que iríamos separar-nos mesmo. era a última vez que nos víamos. tudo era último. ela caiu-me dentro dos braços. apertei o seu tronco, esmaguei-o. pousámos as cabeças nos ombros um do outro: as faces a tocarem-se: lágrimas quentes. passou tempo. afastámo-nos para nos vermos. partilhámos um olhar. e os nossos corpos. e a luz branca sobre nós. (...) não tínhamos palavras. tínhamos silêncio. tínhamos as nossas respirações e aquilo que víamos, subitamente real. tínhamos o tempo a trazer-nos de novo a verdade e a tristeza. ela não se levantou, não caminhou nua, não se sentou ao piano. continuou deitada, sem forças, sem vida: o olhar desfeito. eu levantei-me. vesti-me devagar. as roupas não saravam as feridas do meu corpo rasgado. a última vez que nos víamos. caminhei para a porta do salão, deixando-a deitada sobre o tapete, sem olhar para trás. (...) o rosto dela acreditou que ia voltar, ia dar os passos de volta até aos seus braços, até ao seu corpo nu e abandonado. não voltei. (...)

'cemitério de pianos'- José Luís Peixoto

domingo, 24 de março de 2013

Primavera.






Vai alta no céu a lua da Primavera 


Penso em ti e dentro de mim estou completo. 

Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira. 

Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz. 

Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo, 
E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores. 
Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos, 
Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores, 
Isso será uma alegria e uma verdade para mim.


Alberto Caeiro

quinta-feira, 21 de março de 2013




cidades paisagens ocupadas pela tristeza:


já não as posso ver com os teus olhos




...




heiner müller, 'o anjo do desespero'

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Mother and Daugther (a minha 56ª foto no Fineart)


I am silver and exact. I have no preconceptions.
Whatever I see, I swallow immediately.
Just as it is, unmisted by love or dislike
I am not cruel, only truthful —
The eye of a little god, four-cornered.
Most of the time I meditate on the opposite wall.
It is pink, with speckles. I have looked at it so long
I think it is a part of my heart. But it flickers.
Faces and darkness separate us over and over.
Now I am a lake. A woman bends over me.
Searching my reaches for what she really is.
Then she turns to those liars, the candles or the moon.
I see her back, and reflect it faithfully
She rewards me with tears and an agitation of hands.
I am important to her. She comes and goes.
Each morning it is her face that replaces the darkness.
In me she has drowned a young girl, and in me an old woman
Rises toward her day after day, like a terrible fish.
Sylvia Plath

p.s. quanto mais me olho, mais te reconheço...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013





tocava-te e reconhecia-me.afinal não existia diferença entre o meu corpo e o seu reflexo.

chamaram a esta coincidência loucura

(...)
al berto

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013